terça-feira, 27 de abril de 2010

Aula de 27 de Abril de 2010 - a socialização no filme "Condenados de Shawshank"

Como introdução a dois temas do programa, será apresentado oralmente e discutido o filme "Condenados de Shawshank". Na próxima aula, será solicitado aos alunos um pequeno texto que mostre como as questões da socialização organizacional são importantes para uma possível análise do filme.


Título: Condenados de Shawshank
Titulo original: The Shawshank Redemption
Lançamento: 1994 (EUA)
Direcção: Frank Darabont
Actores: Tim Robbins , Morgan Freeman , Bob Gunton ,William Sadler , Gil Bellows
Duração: 142 min
Género: Drama




Um comentário ao filme encontrado na internet:


"Um poster de uma atriz na parede é a única esperança de redenção para um inocente na prisão. É assim que eu resumo, numa oração. Filme que soaria bem melhor com seu título original (algo como Rendenção em Shawshank). É uma fábula sobre perseverança, coragem e lealdade num dos lugares onde isso seria menos provavel de se encontrarem: uma prisão. 
Shawshank é uma daquelas duras e feias casas de denteção norte-americana, com seus directores corruptos, seus policiais violentos, seu ambiente decadente beirando a selvageria, enfim, aquele ambiente acolhedor que já deu origem há tantos filmes e até séries de televisão. Mas apesar desta ser uma pelicula baseada num conto de Stephen King, não é uma história de terror: é uma fábula sobre a esperança. Se o horror existe ele é psicológico. Está na destruição no humano e sonhador dentro de cada homem. 


Quando Andy Dusfrane (Tim Robbins) chega a prisão, logo lhe dizem para não ter esperança no fim do túnel. Mas se não há tunel para se ver uma luz no fim, então construa um túnel! Como um bom geólogo, Andy sabe que tudo só precisa de tempo e de pressão até ceder. Mas quem irá ceder antes? As paredes da prisão ou o próprio Dusfrane? Podem aprisionar o corpo de um homem, mas não seu espírito. Para resistir as torturas e sadismos físicos e psicológicos, Andy passa a trazer um pouco de seu mundo dentro da cadeia. 


Num lugar onde a vida não vale nada, é na amizade de seus companheiros de sela que ele pode dar um mínimo de alento na convivencia forçada de cada um deles. De início de forma tímida, logo após mais competentemente, auxiliado por seu amigo Reed (Morgan Freeman, numa interpretação que deveria ter lhe valido o oscar), Andy toma as rédeas da situação e começa a melhorar não só suas condições mas também as de seus companheiros, mesmo não que de forma definitiva, mesmo ilusória, mas cria aí um ambiente de "civilização", tal como um Robson Crusóe perdido numa ilha deserta de justiça, mas não de compaixão e solidariedade. 


E não é nos homens da lei que encontra esses ultimos valores, mas naqueles homens faltosos com a ordem vigente, com aqueles proscritos que também forma banidos do convivio social. Formam todos uma irmandade, compartilham todos um laço mútuo e Andy compreende: "Em Shawshank ninguém é inocente". 


Duas cenas que vale aqui ilustrar e que me marcaram para eleger esse como um dos meus filmes preferidos: quando Andy é preso por colocar uma ópera de Mozart nos autofalantes da prisão, sendo depois enclausurado na solitária por uma semana, ele sai do castigo com um sorriso no lábio e em perfeito estado de saúde mental: "Eu não estava sozinho, explica ele. Estava com Mozart". A segunda, e mais marcante, quando o corrupto diretor de Shawshank rasga o poster de Rita Hayworth da parede da cela de Dusfrane e descobre por onde ele fugiu. Rita, sua luz no fim do tunel. Rita, que apontava o caminho de sua redenção. 


O que segue é uma espetacular cadeia de acontecimentos que mostram o quanto a determinação de um ser humano podem fazer em 18 anos de confinamento. Um final mais do que apropriado não só para os personagens, mas de toda película, culminando numa belissima imagem de por de sol, figurando como uma "redenção". 


Foi com esse filme que Tim Robins se confirmou, ainda que Hollywood e a crítica especializada não lhe façam justiça, como um dos meus actores favoritos. Selectivo na escolha de papéis, são os temas humanos e em favor dos direitos civis os que mais chamam a atenção do ator. Mas, mais do que senso social, Robbins tem talento de sobra não somente para discursar ou denunciar, mas sobretudo para colocar, em simples expressões, laivos de esperança e de coragem do ser humano, assim como conferiu a Andy Dusfrane. E está dito o necessário." 


Nano Sousa, 12 de Janeiro de 2001


[texto adaptado]


in: http://www.adorocinema.com/filmes/sonho-de-liberdade


O filme pode ser analisado a partir de diferentes visões sociológicas. Nas próximas aulas, iremos discutir a aplicação da teoria da socialização organizacional de R. Sainsaulieu e a teoria de Claude Dubar da socialização. 



1. DUBAR, C. (1991), La Socialisation: Constructions des identités sociales et profissionnelles. Paris: Armand Colin (existe em português). Ver tradução online
em português (A socialização: construção das identidades sociais e profissionais, Porto, Porto Editora, 1997) Online:
http://www.scribd.com/doc/6977036/Claude-Dubar-A-SocializaCAo

2. DUBAR, Claude (1998), “A sociologia do trabalho frente à qualificação e à competência. Educação e Sociedade, v. 19,
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301998000300004&lng=pt&nrm=iso ,[Acesso em: 12 Fevereiro de 2007].



Ver aqui uma breve apresentação/resumo da teoria de C. Dubar:                             


http://www.ceddi.uan.mx:8080/siu/Archivos/conferencias/.../La%20identidad2.ppt

3. Ver aqui um trabalho de alunos de sociologia da Univ. do Minho sobre R. Sainsaulieu:
http://renaudsainsaulieu.blogspot.com/



Ver também aqui um texto, que será objecto de uma análise, que relaciona o filme com as teorias de Durkheim (e indirectamente de K. Marx e Parsons, inspirador de Sainsaulieu e Dubar):


http://liusena.wordpress.com/2006/09/07/relacoes-entre-um-sonho-de-liberdade-e-teorias-da-sociologia/

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Resumo correcto do texto de Jung

Resumo do texto extraído de uma conferência do psicanalista Carl Gustav Jung no Instituto Tavistock em 1935. Mostra a importância de uma psicologia com implicações sociais e da psicanálise na Escola Sócio-técnica.


Primeira Conferência
(JUNG, C.G. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 2001, volume XVIII/1)



.....

Um resumo pode ser seguido de "impressões a quente" e de uma primeira avaliação organizada e função de 3 perguntas: 


1 - O tema do texto é pertinente? Serve para quê?
2 - É confuso?
3 - Tem algo de novo? Acrescenta algo que eu nunca tinha reparado?


1.º- Neste texto o autor pretende explicitar, por um lado, os conceitos de análise do inconsciente e, por outro, os métodos de investigação.


2º - Perante a dimensão desconhecida e ampla do inconsciente, a parte consciente tem um papel reduzido. 


3º - O consciente é, em grande medida eaté certo ponto, limitado. Porque é impossível à nossa parte consciente captar a totalidade da experiência no "continuo" do quotidiano. Sendo assim o autor considera que se deve partir do inconsciente para o consciente porque a consciência é no limite algo de artificial.


4º - Segundo a opinião dos Índios, os Americanos pensam erradamente com a cabeça. Segundo Jung, os Índios tem razão porque os nossos pensamentos derivam em grande parte " da consciência da intensidade dos sentimentos".


5º - Actualmente os intelectuais têm medo que a sua consciência seja influenciada pelos sentimentos e por isso não sabem lidar com eles, são mais arcaicos que o homem dito selvagem.


6º - Desta forma "estar louco" ou afirmar que alguém está "louco" é relativo, pois sendo um conceito social varia em função das restrições e convenções de cada sociedade.  

terça-feira, 20 de abril de 2010

Alua de 20 de Abril - discussão de um texto de C. G. Jung

Texto de apoio para a aula (a resumir e discutir na aula). Uma conferência do psicanalista Carl Gustav Jung no Instituto Tavistock em 1935. Mostra a importância de uma psicologia com implicações sociais e da psicanálise na Escola Sócio-técnica.



Primeira Conferência
(JUNG, C.G. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 2001, volume XVIII/1)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Texto discutido na aula de 13 de Abril de 2010

Universidade do Minho

Curso de Sociologia

(1º ciclo – 2º ano)

Trabalho e Culturas Profissionais – Aula de 13 de Abril de 2010

Leitura e discussão colectiva de um texto a partir da aula sobre a "Escola sócio-técnica".

1. Introdução
“Se nós queremos entender a mecânica do poder e da organização, é importante não começar assumindo o que queremos explicar. Por exemplo, é uma boa idéia não assumir que há um sistema macro-social, por um lado, e detalhes micro-sociais derivados, pelo outro lado. Se fizermos isso, estaremos retirando da cena as questões mais interessantes sobre as origens do poder e da organização. Ao invés disso, nós deveríamos começar com um quadro limpo. Por exemplo, podemos começar com interação e assumir que interação é tudo o que há. Podemos então perguntar como é que alguns tipos de interação conseguem se estabilizar mais, outras menos, e se reproduzir. Como é que elas conseguem superar as resistências e parecem se tornar “macro-sociais”. Como é que elas parecem produzir efeitos tais como poder, fama, tamanho, escopo ou organização, com os quais somos familiares. Este é um dos pressupostos centrais da teoria ator-rede: Napoleões não são diferentes em espécie de “hustlers” insignificantes, nem IBMs de “whelk-stalls”. E se eles são maiores, então deveríamos estar estudando como isso veio a acontecer – em outras palavras, como tamanho, poder e organização são gerados.

Nesta nota, eu começo por explorar a metáfora da rede heterogênea. Isso reside no núcleo da teoria ator-rede, e é uma forma de sugerir que a sociedade, as organizações, os agentes, e as máquinas, são todos efeitos gerados em redes de certos padrões de diversos materiais, não apenas humanos. Em seguida, eu considero a consolidação da rede, e em particular, por que é que as redes podem vir a parecer atores pontuais: dito de uma outra forma, por que é que podemos algumas vezes falar do “Governo Britânico” em vez de todas as peças que o constituem. Em seguida, examino o caráter de ordenamento da rede e argumento que isto é visto melhor como um verbo – um processo, algo incerto, de superar resistências – do que como o fait accompli de um nome. Finalmente, eu discuto os materiais e estratégias do ordenamento da rede, e descrevo alguns achados organizacionalmente relevantes da teoria ator-rede. Em particular, eu considero algumas das formas pelas quais o ordenamento da rede, segundo certos padrões, gera efeitos institucionais e organizacionais, incluindo hierarquia e poder.

2. A SOCIEDADE COMO UMA REDE HETEROGÊNEA
Os autores da teoria ator-rede começaram na sociologia da ciência e da tecnologia, e juntamente com outros na sociologia da ciência, eles argumentavam que o conhecimento é um produto social , e não algo produzido através da operação de um método científico privilegiado. Em particular, eles argumentavam que o “conhecimento” (mas eles generalizam de conhecimento para agentes, instituições sociais, máquinas e organizações) pode ser visto como um produto ou efeito de uma rede de materiais heterogêneos.[…]

Este é um argumento radical porque ele diz que essas redes são compostas não apenas por pessoas, mas também por máquinas, animais, textos, dinheiro, arquiteturas – enfim quaisquer materiais.
Portanto o argumento é que o que compõe o social não é simplesmente humano. O social é composto por todos esses materiais também. Na verdade, o argumento é que nós não teríamos uma sociedade, de modo algum, se não fosse pela heterogeneidade das redes do social. Portanto, nesta visão, a tarefa da sociologia é caracterizar estas redes em sua heterogeneidade, e explorar como é que elas são ordenadas segundo padrões para gerar efeitos tais como organizações, desigualdades e poder. […] 
Vamos a um segundo exemplo. Eu estou de pé num tablado. Os alunos me olham, por trás de fileiras de carteiras, com papéis e canetas. Eles tomam notas. Eles podem me ver e me escutar. Mas eles também podem ver as transparências que eu ponho no projetor. Portanto, o projetor, assim como a forma da sala, participa da moldagem da nossa interação. Ele media a nossa comunicação, e faz isso numa forma assimétrica, amplificando o que eu digo sem dar aos estudantes muita chance de replicarem (Thompson, 1990). Num outro mundo, isto poderia, obviamente, ser diferente. Os estudantes poderiam invadir o tablado e assumir o controle do projetor. Ou poderiam, se eu desse aulas mal, simplesmente me ignorar. Mas eles não fazem isso, e uma vez que não o fazem, o projetor participa da nossa relação social: ele ajuda a definir o relacionamento professor – aluno. Ele é uma parte do social. Ele opera sobre eles para influenciar a forma pela qual eles agem”.

Ver o texto completo em:

John Law, “NOTAS SOBRE A TEORIA DO ATOR-REDE: ORDENAMENTO, ESTRATÉGIA, E
HETEROGENEIDADE”, in

Aula de 13 de Abril de 2010

Universidade do Minho
Trabalho e Culturas Profissionais  2º ano sociologia (1º ciclo)
13 de Abril de 2010
Tema: "Do neo-liberalismo e do neo-fordismo  aos grupos sócio-técnicos. A importância do sócio-técnico na teoria do actor rede".


Ver aqui resumo da aula:


http://neves.do.sapo.pt/AulaOrgTrab10Abr07.pdf


Bibliografia fundamental:



ORSTMAN, O. (1984), Mudar o Trabalho – As experiências, os métodos, as condições de experimentação social, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 138 – 213 e 245 – 323.


Bibliografia adicional:





RAVICHANDRAN, T., RAI, Arun. Quality Management in Systems Development: An Organizational System Perspective. MIS Quarterly, v. 24, n. 3. Minneapolis, MN, USA: Carlson School of Management, University of Minnesota, Sep 2000.
SHARMA, Ravi S., CONRATH, David W. Evaluating Expert Systems: The Sociotechnical Dimensions of Quality. Expert Systems, v. 9, n. 3, Aug 1992, pp. 125-137.
TRIST, Eric, MURRAY, Hugh. The Social Engagement of Social Science: The Socio-Technical Perspective. USA: University of Pennsylvania Press, 1993, 695 p.
WOOD JR., Thomaz. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: Os Caminhos da Indústria em Busca do Tempo Perdido. Revista de Administração de Empresas (RAE), v. 32, n. 4. São Paulo, SP, Brasil: Set-Out 1992, pp. 6-18.



Ver vídeo no youtube sobre o Instituto Tavistock:


http://www.youtube.com/watch?v=9OF9Sv-bhZE&feature=related