Universidade do Minho
Curso de Sociologia
(1º ciclo – 2º ano)
Trabalho e Culturas Profissionais – Aula de 13 de Abril de 2010
Leitura e discussão colectiva de um texto a partir da aula sobre a "Escola sócio-técnica".
1. Introdução
“Se nós queremos entender a mecânica do poder e da organização, é importante não começar assumindo o que queremos explicar. Por exemplo, é uma boa idéia não assumir que há um sistema macro-social, por um lado, e detalhes micro-sociais derivados, pelo outro lado. Se fizermos isso, estaremos retirando da cena as questões mais interessantes sobre as origens do poder e da organização. Ao invés disso, nós deveríamos começar com um quadro limpo. Por exemplo, podemos começar com interação e assumir que interação é tudo o que há. Podemos então perguntar como é que alguns tipos de interação conseguem se estabilizar mais, outras menos, e se reproduzir. Como é que elas conseguem superar as resistências e parecem se tornar “macro-sociais”. Como é que elas parecem produzir efeitos tais como poder, fama, tamanho, escopo ou organização, com os quais somos familiares. Este é um dos pressupostos centrais da teoria ator-rede: Napoleões não são diferentes em espécie de “hustlers” insignificantes, nem IBMs de “whelk-stalls”. E se eles são maiores, então deveríamos estar estudando como isso veio a acontecer – em outras palavras, como tamanho, poder e organização são gerados.
Nesta nota, eu começo por explorar a metáfora da rede heterogênea. Isso reside no núcleo da teoria ator-rede, e é uma forma de sugerir que a sociedade, as organizações, os agentes, e as máquinas, são todos efeitos gerados em redes de certos padrões de diversos materiais, não apenas humanos. Em seguida, eu considero a consolidação da rede, e em particular, por que é que as redes podem vir a parecer atores pontuais: dito de uma outra forma, por que é que podemos algumas vezes falar do “Governo Britânico” em vez de todas as peças que o constituem. Em seguida, examino o caráter de ordenamento da rede e argumento que isto é visto melhor como um verbo – um processo, algo incerto, de superar resistências – do que como o fait accompli de um nome. Finalmente, eu discuto os materiais e estratégias do ordenamento da rede, e descrevo alguns achados organizacionalmente relevantes da teoria ator-rede. Em particular, eu considero algumas das formas pelas quais o ordenamento da rede, segundo certos padrões, gera efeitos institucionais e organizacionais, incluindo hierarquia e poder.
2. A SOCIEDADE COMO UMA REDE HETEROGÊNEA
Os autores da teoria ator-rede começaram na sociologia da ciência e da tecnologia, e juntamente com outros na sociologia da ciência, eles argumentavam que o conhecimento é um produto social , e não algo produzido através da operação de um método científico privilegiado. Em particular, eles argumentavam que o “conhecimento” (mas eles generalizam de conhecimento para agentes, instituições sociais, máquinas e organizações) pode ser visto como um produto ou efeito de uma rede de materiais heterogêneos.[…]
Este é um argumento radical porque ele diz que essas redes são compostas não apenas por pessoas, mas também por máquinas, animais, textos, dinheiro, arquiteturas – enfim quaisquer materiais.
Portanto o argumento é que o que compõe o social não é simplesmente humano. O social é composto por todos esses materiais também. Na verdade, o argumento é que nós não teríamos uma sociedade, de modo algum, se não fosse pela heterogeneidade das redes do social. Portanto, nesta visão, a tarefa da sociologia é caracterizar estas redes em sua heterogeneidade, e explorar como é que elas são ordenadas segundo padrões para gerar efeitos tais como organizações, desigualdades e poder. […]
Vamos a um segundo exemplo. Eu estou de pé num tablado. Os alunos me olham, por trás de fileiras de carteiras, com papéis e canetas. Eles tomam notas. Eles podem me ver e me escutar. Mas eles também podem ver as transparências que eu ponho no projetor. Portanto, o projetor, assim como a forma da sala, participa da moldagem da nossa interação. Ele media a nossa comunicação, e faz isso numa forma assimétrica, amplificando o que eu digo sem dar aos estudantes muita chance de replicarem (Thompson, 1990). Num outro mundo, isto poderia, obviamente, ser diferente. Os estudantes poderiam invadir o tablado e assumir o controle do projetor. Ou poderiam, se eu desse aulas mal, simplesmente me ignorar. Mas eles não fazem isso, e uma vez que não o fazem, o projetor participa da nossa relação social: ele ajuda a definir o relacionamento professor – aluno. Ele é uma parte do social. Ele opera sobre eles para influenciar a forma pela qual eles agem”.
Ver o texto completo em:
John Law, “NOTAS SOBRE A TEORIA DO ATOR-REDE: ORDENAMENTO, ESTRATÉGIA, E
HETEROGENEIDADE”, in
http://www.necso.ufrj.br/Trads/Notas%20sobre%20a%20teoria%20Ator-Rede.htm [10 de Abril de 2010]
Sem comentários:
Enviar um comentário